A Origem dos Ovimbundu
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A Origem dos Ovimbundu: a hipotese mais proxima da realidade
Por: Mbela Issó
A origem dos ovimbundu tem sido motivo de estudos
apaixonados por parte de vários historiadores. Uma das razões para que isso
aconteça, tem a ver com o fato de se tratar de um grupo étnico que marcou (e
continua a marcar), de modo profundo, a história econômica, social, política e
cultural da porção de território que hoje se chama Angola.
Na verdade, este grupo étnico, destacou-se muito cedo. Assim, temos, em
primeiro lugar, a enfatizar a resistência tenaz que manifestou contra o invasor
colonialista; em segundo lugar, a sabedoria de alguns dos seus reis, que lhes
permitiu estender as suas relações comerciais até ao Zanzibar (Oceano Índico);
em terceiro lugar, a exploração desenfreada a que foi vítima durante o regime
colonial (roças, pescarias, fazendas de algodão, café,etc.) que levou muitos
ovimbundu a emigrarem para os países vizinhos. Por último, e na história mais
recente, o fato de ter surgido, no seio deste grupo étnico, uma rebelião
armada, cujas conseqüências ainda estão para ser descritas.
A origem dos Ovimbundu é, de acordo com os historiadores, sempre vista dentro
dos processos migratórios Bantu (Os ovimbundu, tal como a maior parte da
população que vive a sul do equador é Bantu, por pertencerem a um grupo
lingüístico que utiliza a raiz ntu para se referir ao homem. O acréscimo do
prefixo Ba (plural)- Bantu surge, assim, para designar esta população no seu
todo). Recorde-se que alguns investigadores têm avançado hipóteses segundo as
quais os Bantu teriam vindo da Ásia ou da região de Bahar-el-Ghazal e que se
teriam fixado nos grandes lagos. Muito para além das formulações hipotéticas é
um fato comummente aceite entre os investigadores de que os Bantu devem,
provavelmente, ter vindo das mesetas de Bauchi (Nigéria) e dos Camarões. Mas
tudo aponta no sentido de serem originários do Noroeste da floresta equatorial
(vale de Benué) e que durante milhares de anos se foram fixando em vários pontos
da África. As migrações, como são óbvias, tiveram várias causas entre as quais
podemos apontar as de caráter político (defesa e luta pela sobrevivência de um
grupo face ao outro); econômico (ligadas às catástrofes naturais que faziam com
que os Bantu procurassem terrenos mais férteis). São os problemas que Basil
Davidson designou como sendo de caráter físico. Por último, podem apontar-se os
desentendimentos dentro dos vários clãs (problemas ligados à sucessão ao
trono).
Ekuikui II :Artífice da estratégia "vergar o adversário pela economia" |
Relativamente
a Angola é de referir que os Bantu angolanos, são originários do que se tem
designado por 2º Centro Bantófono (Baixo Congo e Planalto Luba).Os ovimbundu
seriam, assim, descendentes dos Bantu que se fixaram no planalto central. No
entanto, as hipóteses acerca da origem dos ovimbundu são várias e nem sempre
consensuais. As referidas hipóteses dividem-se entre aquelas que afirmam que os
Ovimbundu teriam vindo de Benué (um vale situado numa região a leste da
Nigéria); as que defendem a idéia de que seriam resultado de uma miscigenação
de outros grupos e as que os consideram como descendentes dos autores das
pinturas rupestres de Caninguiri (Kañilili).
De acordo com a primeira hipótese os ovimbundu, conforme os seus autores,
teriam passado pela faixa Atlântica, fixando-se em Benguela. E dado o fato de
serem agricultores dirigiram-se ao planalto do Huambo e Bié, cujas terras eram
as mais férteis. Esses autores sustentam esta hipótese com dados provenientes
da lingüística. Assim, segundo ele, alguns dos termos utilizados pelos
Ovimbundu, ao invés de se aproximarem aos usados pelos Bantu mais próximos
assemelham-se mais aos do povo Igbo da Nigéria. É o caso do termo
"Suku" (deus) "omunu" (pessoa,) "twendi" (vamos).
Os kimbundu por, exemplo, utilizam o termo Nzambi para designar Deus.
Os defensores da segunda hipótese afirmam que os Ovimbundu são uma síntese de
vários grupos étnicos. E, consequentemente, defendem a idéia de que este grupo
não tem um caráter homogêneo. Estão à vista os aproveitamentos políticos que se
podem fazer desta interpretação. Uma vez que se pretende, com este ponto de
vista, provar que os Ovimbundu não são um grupo étnico unitário, e muito menos
têm uma especificidade cultural e étnico-linguística próprias.
Os estudiosos, defensores desta hipótese, apegando-se em aspectos lingüísticos,
afirmam que os Ovimbundu seriam descendentes dos Bakongo, uma vez que, segundo
eles, a língua umbundu é uma síntese do Bantu-Kongo e do Bantu-Lunda. Na verdade,
esta hipótese, possui uma certa evidência científica, pois os Ovimbundu, pela
posição que ocupam no planalto central, teriam ligações com os Ambundu da baixa
de Kasanji; com os Cokwe e os Lunda. E mesmo a sua grande versatilidade, a sua
impressionante capacidade de adaptação aos diversos habitat, poderia ser
explicada a partir desta simbiose; desta miscigenação que não se cingiu apenas
a aspectos lingüísticos e biológicos;mas também à adoção de saberes, técnicas,
formas coletivas de luta contra a adversidade da natureza.
Esta hipótese, a mais aceite pelos vários historiados, viria a levar um rude
golpe, criando assim, várias dúvidas, com a descoberta da estação arqueológica
de Kaniniguiri (Kaniñili). É de referir que esta se situa nas áreas do Mungo e
do Bailundo e remonta a milhares de anos (9600 anos ou 9670 anos em idade
absoluta). O que mostra que, paralelamente, as comunidades pré-bantu
(Bosquímanos,os Vátuas e outros) existia, na região do planalto, uma
comunidade, de onde saíram os autores das famosas e impressionantes pinturas
ruprestes de Kaninguiri. E, se para além das evidências arqueológicas, nos
ativermos à tradição oral, que apresentaremos quando falarmos da história de
cada subgrupo étnico em particular, podemos tirar a seguinte conclusão: existem
evidências claras que apontam no sentido de os Ovimbundu serem descendentes
diretos dos autores das pinturas de Kaninguiri e que foram sofrendo, num
processo de "osmose", influência dos grupos Bantu que se iam fixando
nas proximidades. Saliente-se que, de acordo com alguns historiadores, as
migrações dos Bantu, em Angola, devem ter iniciado no século XII com a entrada
dos Kikongo; dos va-Nyaneka no séc XVI, dos Ngangeula, no século XVII, dos
Ovambo e dos Cokwe, no século XVIII e dos Ovakwangali no século XIX.
O grupo étnico dos ovimbundu é, atualmente, formado por vários subgrupos
:va-mbalundu, va-vihé, va-wambu, va-ngalangui, va-kimbulu, va-ndulu,
va-kingolo, va-kaluquembe, os va-sambu), va-ekekete), va-kakonda), va-kitatu,
va-sele, va-mbui, va-hanha, va-nganda va-chikuma, va-dombe e va-lumbu). Estes
subgrupos vivem na região que compreende o Huambo, zona de solo fértil e onde
se pode cultivar cereais, pomicultura, horticultura, etc. Para além disso,
possui boas condições para o gado, especialmente bovino; é de referir que
algumas províncias como a Huíla possuem regiões onde a população é
majoritariamente Ovimbundu (Caluquembe e Caconda); o Bié, igualmente uma zona
fértil e de clima saudável; Benguela, região igualmente com terrenos muito
férteis e onde existem minérios de cobre,ferro,enxofre, sulfato de sal,etc.e
numa parte do Cuanza sul.
Por fim resta-nos apenas dizer que os futuros estudos a efetuar querem ao nível
da lingüística, quer da arqueologia,quer ainda da tradição poderão aportar
outros dados importantes para o conhecimento relativo a origem dos Ovimbundu.