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A visão Bantu Kongo da Sacralidade do Mundo Natural

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O mundo natural para o povo Bântu é a totalidade de totalidades amarradas acima como um pacote (futu) por Kalunga, a energia superior e mais completa, dentro e em volta de cada coisa no interior do universo ( luyalungunu).
Nossa Terra, o “pacote de essências” (futu dia n’kisi) para a vida na Terra, é parte dessa totalidade de totalidades. É vida. É o que é, visível e invisível. É a ligação do todo em um através do processo de vida e viver ( dingo-dingo dia môyo ye zinga). É o que nós somos porque somos uma parte disso. É o que mantém cada coisa na Terra e no Universo em seu lugar.


O conceito Bântu-Kôngo da sacralidade do mundo natural é simples e claro. Tem-se que deixá-los definir o nosso planeta com suas próprias palavras: “Aos olhos do povo Africano, especialmente aqueles em contato com os ensinamentos das antigas escolas Africanas, a Terra, nosso planeta, é futu dia n’kisi diakânga Kalûnga mu diâmbu dia môyo - um (pacote) de essências/remédios amarrados por Kalunga com intenção de vida na Terra”.
Esse futu ou funda contém cada coisa que a vida precisa para sua sobrevivência: essências/remédios (n’kisi / bilongo), comida (madia), bebida (ndwinu), etc.
O mundo natural é o que nós vemos, tocamos, sentimos, saboreamos e ouvimos e ainda assim nós não podemos alcançar o significado em sua totalidade. É o mistério de todos os mistérios. É o cerne do que é espiritual e sagrado. É ligar e desligar (Kala ye Zima) de todas as coisas, i.e., Nkingu Kibeni Wangudi Wa Kinenga mu biobio (a chave princípio de equilíbrio em tudo). Todas essas coisas, com ou sem expressão, com ou sem poder de locomoção, de acordo com o conceito Bântu de sacralidade são seres (Kadi).
Os povos Bântu, Kôngo e Luba, entre eles, aceitam o mundo natural como sagrado em sua totalidade porque, através dele, vêem refletida a grandeza de Kalunga. A energia superior de vida, aquele que é inteiramente completo (lunga) por si próprio. Assim, quando um Mûntu (ser humano) vê um minúsculo cristal (ngêngele) ele/ela vê nele, não só sua sacralidade, mas também a presença divina de Kalunga.
Além da atenção e admiração dadas a montanhas, vales, ao vento, ao céu e às mudanças do ciclo natural, o Mûntu dá especial atenção ao mundo da floresta porque, como se diz, “Mfinda Kasuka tufukidi” - nós perecemos se as florestas são extintas. Por causa dessa visão popular entre os Bântu, o próprio ato de entrar na floresta torna-se um ritual sagrado.
Antes de alguém entrar na floresta deve preparar-se ritualmente, porque adentrar na floresta é entrar numa das mais ricas e bem documentadas bibliotecas vivas na Terra. Em seu leito e abaixo vivem centenas e centenas de criaturas, grandes e pequenas, visíveis e invisíveis, fracas e poderosas, amigáveis e hostis, conhecidas e desconhecidas. Em seu interior correm, serpenteando, rios dentro dos quais nadam multidões de peixes. E acima de suas folhagens pode-se ouvir sons e melodias de todos os tipos. Todas essas “coisas”, dentro da floresta, constituem assuntos de aprendizagens para Mûntu, das quais ele coleta dados que pode “engavetar” em sua memória para uso futuro. Esse é o processo de construir conhecimento - nzailu.
Por causa dos aspectos de hostilidade presentes na floresta, o Mûntu deve proteger-se antes de entrar na floresta. Para isso, algumas vezes tem que imunizar seu corpo -kândika nitu antes de deixar a aldeia, especialmente durante a estação de caça.
O processo nkandukulu a nitu - imunização do corpo consiste em esfregar preparação medicinal no corpo, introduzir algo no corpo através de pequenas incisões na pele ou através da boca. Até mesmo os cães de caça passam por esse processo e são imunizados antes deles serem conduzidos para dentro do mato.
Adentrar uma floresta familiar é percebido como andar nos passos dos ancestrais. É descobrir o que eles conheceram transmitiram para nós, mas também encontrar saída onde eles deixaram fechado de modo que possamos caminhar em direção a mais descobertas para as necessidades de nossas gerações e aquelas das gerações futuras. Porém lá é mais que isso.
Andar na mata durante a iniciação é revisitar Makulu , onde cada coisa é possível de ser encontrada - Digamos aqui antes do trecho, que estudiosos Kôngo modernos estão usando este termo, makulu, nas suas conversações para significar biblioteca. Bem, não são as bibliotecas do mundo, coleções, em grandes parte, dos trabalhos dos mortos (bakulu), os ancestrais? Não é humanidade constituída por mais mortos do que vivos?
A revisita de makula tem um grande impacto na mente de ngudi-a-ngânga (mestre iniciadores) e seus seguidores (lândi) intelectualmente bem como espiritualmente. O processo em si mesmo é chamado “Mokina ye bafwa”- conversar com o morto .
Isso é, sumariamente:
- reunião com os ancestrais, i.e., com a presença de sua energia (ngolo minienie miâu). - viver a experiência do tempo, como hoje é vivida bem como foi vivida no passado e como deve ser vivida no futuro. - andar no passado seguindo Kini Kia bakulu (a sombra dos ancestrais). - rever o laço da comunidade bio-genética - n’sing’a dikânda: como fortificá-lo e como expandir seus ensinamentos.
- é estar em contato espiritualmente bem como intelectualmente com a sabedoria tradicional Africana (kingânga) do passado. - é entender as condições de vida e viver daquele tempo e de agora. Finalmente, é conversar com “bakulu”, ancestrais, numa experiência pessoal, i. é., sentindo sua presença entre nós hoje e amanhã.
Por causa da sacralidade do mundo natural como um real mundo vivo, tão ilustrado pela verdura de plantas e florestas, mawubi/maghubi, a maioria das reuniões que dão poderes espiritualmente é mantida em florestas. Por causa de sua importância para a vida e o viver, o mundo natural, e a floresta em particular, são percebidos como um templo aberto para todos. As pessoas são conduzidas para dentro desse templo mais espiritualmente sagrado, essa biblioteca viva, para tornar-se de verdade homem/mulher através do processo de iniciação, i. é., Mu bulwa mèso - manter-se de olhos abertos.
É um processo de aprender como se vincular com a natureza em unidade com ela. É aprender o que as florestas armazenam (como conhecimento) para nós; o que as plantas são para nosso uso; que criaturas compartilham nosso ecossistema conosco. É descobrir em nosso ambiente o que é comestível ou medicinal e o que não é.

Autor – Fu-Kiau K.K. Bunseki
Tradução portuguesa por Valdina O. Pinto

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A Origem dos Ovimbundu

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A Origem dos Ovimbundu: a hipotese mais proxima da realidade
Por: Mbela Issó



A origem dos ovimbundu tem sido motivo de estudos apaixonados por parte de vários historiadores. Uma das razões para que isso aconteça, tem a ver com o fato de se tratar de um grupo étnico que marcou (e continua a marcar), de modo profundo, a história econômica, social, política e cultural da porção de território que hoje se chama Angola.



Na verdade, este grupo étnico, destacou-se muito cedo. Assim, temos, em primeiro lugar, a enfatizar a resistência tenaz que manifestou contra o invasor colonialista; em segundo lugar, a sabedoria de alguns dos seus reis, que lhes permitiu estender as suas relações comerciais até ao Zanzibar (Oceano Índico); em terceiro lugar, a exploração desenfreada a que foi vítima durante o regime colonial (roças, pescarias, fazendas de algodão, café,etc.) que levou muitos ovimbundu a emigrarem para os países vizinhos. Por último, e na história mais recente, o fato de ter surgido, no seio deste grupo étnico, uma rebelião armada, cujas conseqüências ainda estão para ser descritas.
A origem dos Ovimbundu é, de acordo com os historiadores, sempre vista dentro dos processos migratórios Bantu (Os ovimbundu, tal como a maior parte da população que vive a sul do equador é Bantu, por pertencerem a um grupo lingüístico que utiliza a raiz ntu para se referir ao homem. O acréscimo do prefixo Ba (plural)- Bantu surge, assim, para designar esta população no seu todo). Recorde-se que alguns investigadores têm avançado hipóteses segundo as quais os Bantu teriam vindo da Ásia ou da região de Bahar-el-Ghazal e que se teriam fixado nos grandes lagos. Muito para além das formulações hipotéticas é um fato comummente aceite entre os investigadores de que os Bantu devem, provavelmente, ter vindo das mesetas de Bauchi (Nigéria) e dos Camarões. Mas tudo aponta no sentido de serem originários do Noroeste da floresta equatorial (vale de Benué) e que durante milhares de anos se foram fixando em vários pontos da África. As migrações, como são óbvias, tiveram várias causas entre as quais podemos apontar as de caráter político (defesa e luta pela sobrevivência de um grupo face ao outro); econômico (ligadas às catástrofes naturais que faziam com que os Bantu procurassem terrenos mais férteis). São os problemas que Basil Davidson designou como sendo de caráter físico. Por último, podem apontar-se os desentendimentos dentro dos vários clãs (problemas ligados à sucessão ao trono).




             Ekuikui II :Artífice da estratégia "vergar o adversário pela economia"

Relativamente a Angola é de referir que os Bantu angolanos, são originários do que se tem designado por 2º Centro Bantófono (Baixo Congo e Planalto Luba).Os ovimbundu seriam, assim, descendentes dos Bantu que se fixaram no planalto central. No entanto, as hipóteses acerca da origem dos ovimbundu são várias e nem sempre consensuais. As referidas hipóteses dividem-se entre aquelas que afirmam que os Ovimbundu teriam vindo de Benué (um vale situado numa região a leste da Nigéria); as que defendem a idéia de que seriam resultado de uma miscigenação de outros grupos e as que os consideram como descendentes dos autores das pinturas rupestres de Caninguiri (Kañilili).
De acordo com a primeira hipótese os ovimbundu, conforme os seus autores, teriam passado pela faixa Atlântica, fixando-se em Benguela. E dado o fato de serem agricultores dirigiram-se ao planalto do Huambo e Bié, cujas terras eram as mais férteis. Esses autores sustentam esta hipótese com dados provenientes da lingüística. Assim, segundo ele, alguns dos termos utilizados pelos Ovimbundu, ao invés de se aproximarem aos usados pelos Bantu mais próximos assemelham-se mais aos do povo Igbo da Nigéria. É o caso do termo "Suku" (deus) "omunu" (pessoa,) "twendi" (vamos). Os kimbundu por, exemplo, utilizam o termo Nzambi para designar Deus.
Os defensores da segunda hipótese afirmam que os Ovimbundu são uma síntese de vários grupos étnicos. E, consequentemente, defendem a idéia de que este grupo não tem um caráter homogêneo. Estão à vista os aproveitamentos políticos que se podem fazer desta interpretação. Uma vez que se pretende, com este ponto de vista, provar que os Ovimbundu não são um grupo étnico unitário, e muito menos têm uma especificidade cultural e étnico-linguística próprias. 
Os estudiosos, defensores desta hipótese, apegando-se em aspectos lingüísticos, afirmam que os Ovimbundu seriam descendentes dos Bakongo, uma vez que, segundo eles, a língua umbundu é uma síntese do Bantu-Kongo e do Bantu-Lunda. Na verdade, esta hipótese, possui uma certa evidência científica, pois os Ovimbundu, pela posição que ocupam no planalto central, teriam ligações com os Ambundu da baixa de Kasanji; com os Cokwe e os Lunda. E mesmo a sua grande versatilidade, a sua impressionante capacidade de adaptação aos diversos habitat, poderia ser explicada a partir desta simbiose; desta miscigenação que não se cingiu apenas a aspectos lingüísticos e biológicos;mas também à adoção de saberes, técnicas, formas coletivas de luta contra a adversidade da natureza.
Esta hipótese, a mais aceite pelos vários historiados, viria a levar um rude golpe, criando assim, várias dúvidas, com a descoberta da estação arqueológica de Kaniniguiri (Kaniñili). É de referir que esta se situa nas áreas do Mungo e do Bailundo e remonta a milhares de anos (9600 anos ou 9670 anos em idade absoluta). O que mostra que, paralelamente, as comunidades pré-bantu (Bosquímanos,os Vátuas e outros) existia, na região do planalto, uma comunidade, de onde saíram os autores das famosas e impressionantes pinturas ruprestes de Kaninguiri. E, se para além das evidências arqueológicas, nos ativermos à tradição oral, que apresentaremos quando falarmos da história de cada subgrupo étnico em particular, podemos tirar a seguinte conclusão: existem evidências claras que apontam no sentido de os Ovimbundu serem descendentes diretos dos autores das pinturas de Kaninguiri e que foram sofrendo, num processo de "osmose", influência dos grupos Bantu que se iam fixando nas proximidades. Saliente-se que, de acordo com alguns historiadores, as migrações dos Bantu, em Angola, devem ter iniciado no século XII com a entrada dos Kikongo; dos va-Nyaneka no séc XVI, dos Ngangeula, no século XVII, dos Ovambo e dos Cokwe, no século XVIII e dos Ovakwangali no século XIX.
O grupo étnico dos ovimbundu é, atualmente, formado por vários subgrupos :va-mbalundu, va-vihé, va-wambu, va-ngalangui, va-kimbulu, va-ndulu, va-kingolo, va-kaluquembe, os va-sambu), va-ekekete), va-kakonda), va-kitatu, va-sele, va-mbui, va-hanha, va-nganda va-chikuma, va-dombe e va-lumbu). Estes subgrupos vivem na região que compreende o Huambo, zona de solo fértil e onde se pode cultivar cereais, pomicultura, horticultura, etc. Para além disso, possui boas condições para o gado, especialmente bovino; é de referir que algumas províncias como a Huíla possuem regiões onde a população é majoritariamente Ovimbundu (Caluquembe e Caconda); o Bié, igualmente uma zona fértil e de clima saudável; Benguela, região igualmente com terrenos muito férteis e onde existem minérios de cobre,ferro,enxofre, sulfato de sal,etc.e numa parte do Cuanza sul.
Por fim resta-nos apenas dizer que os futuros estudos a efetuar querem ao nível da lingüística, quer da arqueologia,quer ainda da tradição poderão aportar outros dados importantes para o conhecimento relativo a origem dos Ovimbundu.

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A máscara Cihongo (tchihongo) simboliza o espírito masculino da riqueza e da autoridade

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Representando um antepassado de origem nobre, a máscara Cihongo (tchihongo) simboliza o espírito masculino da riqueza e da autoridade.
Inicialmente herdada e dançada apenas pelo Soba (autoridade tradicional) ou o seu sobrinho (filho da irmã), viaja pelas povoações exibindo-se enquanto profissional de dança, mas com a função de trazer prosperidade à aldeia.
Embora a máscara facial de madeira, possua traços formais similares às do Mukixi wa Mwana Pwo - que representa a mulher, o feminino -, o Mukixi wa Cihongo é o seu oposto.

Sob o queixo, a representação da barba apenas usada pelos anciôes entre o povo Cokwe; na cabeça uma interpretação do toucado, símbolo de poder, unicamente utilizado pelos chefes Cokwe.

Mukixi wa Cihongo, dançando no centro da aldeia, põe a máscara em movimento; inclina a sua Cikapa (tchikapa) de forma única, com técnicas arduamente aprendidas durante muitas luas na Mukanda, a escola dos segredos masculinos.
Cihongo; Seduz-me e repudia-me. É bela, mas aterradora. Atrai-me e assusta-me.
Sou mulher; sei que não a posso tocar, que não a devo olhar nos olhos.
É-me interdita.

Com os Tucokwe ela atravessa o tempo, dançando sempre.

Cihongo, a eterna e imponente máscara da nobreza africana.



Pesquisa Tata Katuvanjesi - Nganga diama Inzo Ia Tumbansi

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A língua kimbundu

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*por Rui Ramos
O kimbundu é a língua da região de Luanda, Catete, Malanje e as áreas de fronteira no Norte (Dembos - variante crioula kimbundu/kikongo) e no Centro (Kuanza Sul - variante crioula kimbundu/umbundu). É falada por mais de um milhão e meio de pessoas.
                                                              
Faz parte da grande família de línguas africanas a que a partir do século passado os europeus convencionaram chamar Bantu (bantu significa «pessoas», e é plural de muntu. Em Kimbundu mutu designa «pessoa», com o plural em atu).
Estes apontamentos foram elaborados com o intuito de ajudar todos aqueles que manifestam preocupação em conhecer os entrelaçamentos da língua portuguesa com as línguas africanas. Neste caso, o kimbundu foi uma das línguas de África que mais conviveu com o português, pelo menos desde o século dezasseis até à actualidade.
Penso ser a primeira vez que na Internet aparecem apontamentos de uma língua africana falada num PALOP.
Para a elaboração destes elementos gramaticais rudimentares não foi usada qualquer obra de referência. Utilizei somente os meus conhecimentos pessoais.
   1 - Regra geral
   Ao contrário de muitas línguas europeias, o Kimbundu caracteriza-se pela prefixação na formação do género, dos tempos e pessoas verbais.
   As palavras concordam entre si pelo prefixo, o que confere à língua grande musicalidade e ritmo.
   O dikamba diami dia-mu-zeka (O meu amigo está a dormir)
   O makamba mami a-mu-zeka (Os meus amigos estão a dormir)
   Muxima uami (O meu coração. Note-se a concordância mu — u, a regra seria mu - mu, mas não a musicalidade)
   Frase simples:
   Eme ngabiti ku mbanji ia dibata die (Passei perto da tua casa)
   - O verbo kubita está no passado (ngabiti). No presente seria ngibita.
   - A partícula ku aqui não é a desinência dos verbos, mas sim «perto» ou «dentro», mas sem pormenorizar. Tem menos força que mu (dentro de, com especificação). Mas muitas vezes ku e mu usam-se consoante a concordância rítmica.
   - Por corruptela, o português vulgarizou kubata para designar a casa dos angolanos. Mas ku bata ou ku dibata significa «em casa». 
   «Casa» também pode ser inzo (pl. jinzo). Assim: inzo iami (a minha casa), jinzo jietu (as nossas casas), jinzo jiami (as minhas casas), jinzo jia (as casas deles)
   - Mbanji ia (perto de — repare-se na concordância «mb» «i». Não podia ser de outra maneira)
   - Dibata die (tua casa — die aqui refere-se a «teu, tua» e por isso o som é mais aberto do que o diê referido a «seu, sua»
   2 - Pronúncia e sons
   Em Kimbundu os sons são abertos, com algumas excepções («uê»).
   Regra geral não há acentos. As palavras são normalmente graves.
   «s» é sempre «ss»
   «z» é sempre «z»
   «c» é quase sempre representado por «k»
   «g» é sempre «g» e nunca «jê» que, em kimbundu é sempre representado por «j»
   Não há som «rr», quando muito, em algumas regiões, «r» muito fraco (como em «conversar»).
   3 - Classes de nomes
   Há em Kimbundu várias classes de nomes, com distintas formas de plural.
   A) MU — A
   Só se aplica a pessoas
   muxiluanda (primitivo habitante da ilha de Luanda) — axiluanda
   muhatu (mulher) — ahetu (plural irregular por não poder haver dois sons «a» seguidos)
   mona (filho) — ana («mona» é aglutinação de «mu+ana»)
   mubika (escravo) — abika    muadiakimi (velho sábio) — adiakimi
   B) MU — MI
   O mesmo prefixo, desde que não se aplique a pessoas, forma plural diferente
   muxima (coração) — mixima
   mulembu (dedo) — milembu
   muxitu (mata) — mixitu
   mundele (branco) — mindele
   mutue (cabeça) — mitue
   C) DI — MA
   dikamba (amigo) — makamba
   diala (homem) — mala
   dikolombolo (galo) — makolombolo
   dikota (o mais velho) — makota
   diaku (mão) — maku
   D) KI — I
   kinama (perna) — inama
   kilumba (rapariga) — ilumba
   kima (coisa) — ima    kifuba (osso) — ifuba
   kimuezu (barba) - imuezu (barbas)
   E) MP, ND, NG, MB, etc — JI
   São nomes de origem estrangeira.
   Note-se que o «m» e o «n» iniciais antes de consoante nunca se lêem. A sua função é nasalar a consoante.
   No singular, a palavra seguinte deve começar por «i»: mpange ietu (o nosso companheiro); tata ie (o teu pai); mama iami (a minha mãe); nja iami (o meu pénis).
   Muitas vezes utiliza-se o singular como plural, mas a palavra seguinte vai para o plural: mpange jietu (os nossos companheiros), ngulo jiami (os meus porcos)
   ndungo (picante) — jindungo
   mpange (companheiro) — jipange (a nasalação cai)
   ngulo (porco-leitão) — jingulo
   mbolo (pão) — jimbolo
   henda (saudade) — jihenda
   sabu (provérbio) — jisabu
   nvunda (raiva) — jinvunda
   tata (pai) — jitata
   sanji (galinha) — jisanji
   ndanji (raiz) — jindanji
   ngandu (jacaré) — jingandu
   mbua (cão) — jimbua (jímbua)
   nja (pénis) — jinja
   hombo (cabra) — jihombo («h» aspirado)
   F) KA — TU
   O prefixo ka designa o diminutivo
   kangombe (boizinho) — tungombe (boizinhos)
   kasanji (galinha pequena) — tusanji
   Kahombo (cabrinha) - tuhombo (cabrinhas)
   Kalumba (rapariguinhas) - tulumba (rapariguinhas)
   Kandenge (rapazinhos) - tungembe (rapazinhos)
   Kanzamba (elefantezinho) - tunzamba (elefantezinhos)
   G) Plurais irregulares
   Não há regras precisas. Já vimos muhatu/ahetu
   DI — ME
   disu (olho) — mesu
   4) Verbos
   A) Geral
   Todos os verbos, no infinito, têm a desinência ku
   Kuala (ser), Kuala ni (ter), Kubonga (apanhar), Kuia (ir), Kuiza (vir), Kudia (comer), Kukalakala (trabalhar), Kusanga (encontrar), Kuloa (odiar), Kuzola (amar), Kutunda (sair)
   B) Pronomes pessoais
   Para se conjugarem os verbos, tal como nas outras línguas, utilizam-se os pronomes pessoais que, em muitos casos, se sutentendem:
   eme
   eie
   muene
   etu
   enu
   ene
   C) Pronomes possessivos (usam-se com prefixos concordantes com os nomes)
   uami (o muxima uami - o meu coração; o dikamba diami - o meu amigo; o muhatu uami - a minha mulher; o inzo iami - a minha casa)
   ue (o tata ie - o teu pai)
   ue (o inzo ie - a casa dele)
   tuetu (o ixi ietu - a nossa terra)
   nuenu (o mbiji ienu - o vosso mês)
   a (o mona-a-ngulu a - a leitoa deles -- «mona-a-ngulu» significa literalmente: «filho de porco»)
   D) Presente do indicativo
   Tome-se o exemplo simples do verbo kuala (ser)
   (eme) ngala 
   (eie) uala
   (muene) uala
   (etu) tuala
   (enu) nuala
   (ene) ala
   Há aqui uma concordância «lógica». Na primeira pessoa do singular o prefixo do verbo é sempre «ng». As outras seguem os prefixos do pronome (note-se: muene uala. Podia ser «muene muala», mas o «m» cai, para tornar o encadeamento «mais leve»).
   -Verbo kukala ni (ter)
   ngala ni, uala ni, uala ni, tuala ni, nuala ni, ala ni
   NOTA: O verbo ter em kimbundu expressa-se sempre como «ter com...»:
   ngala ni nzala (tenho fome), ki ngala ni makamba (não tenho amigos)
   -Verbo kuiza (vir)
   ngiza
   uiza
   uiza
   tuiza
   nuiza
   iza
   E) Presente-acção    A acção forma-se com mu ou ngolo ou ngalo, conforme a região.
   (eme) nga-mu-tunda (estou a sair) ou ngolo tunda ou ngalo tunda
   (eie) ua-mu-tunda; uolo tunda; ualo tunda
   (muene) ua-mu-tunda; uolo tunda; ualo tunda
   (etu) tua-mu-tunda; tuolo tunda; tualo tunda
   (enu) nua-mu-tunda; nuolo tunda; nualo tunda
   (ene) a-mu-tunda; olo tunda; alo tunda
   (eme) nga-mu-ia (estou a comer) ou ngoloia ou ngaloia
   (eme) nga-mu-xana (estou a chamar)
   (eme) ngolo kuiza (estou a vir); (eme) ngoloia (estou a ir)
   F) Futuro
   Forma-se com ngondo
   (eme) ngondo kuiza (virei) — Neste caso o «ku» do verbo não cai. É um imperativo da musicalidade da linguagem falada
   (eie) uondo kuiza
   (muene) uondo kuiza
   (etu) tuondo kuiza
   (enu) nuondo kuiza
   (ene) ondo kuiza
   Mas:
   ngondo zeka (dormirei); ngondo fua (morrerei)
   ngondoia (comerei); ngondo kuala (serei, estarei)
   G) Passado
   - Do verbo kuzeka
   ngazekele, uazekele, uazekele, tuazekele, nuazekele, azekele (dormi)
   ngalele (fui, verbo ser)
   - Do verbo kuia 
   eme ngai (o presente é eme ngia, uia, uia, tuia, nuia, aia), eie uai, muene uai, etu tuai, enu nuai, ene ai
   - Do verbo kukala (ser)
   ngexile, uexile, uexile, tuexili, nuexile, axile
   - Do verbo kukala ni (ter)
   ngexile ni, uexile ni, uexile ni, tuexile ni, nuexile ni, axile ni
   H) Imperativo
   - Na segunda pessoa do singular forma-se com o infinito do verbo sem a partícula ku
:    Zuela! (fala!)
   Tunda! (sai!)
   Diê! (come! — Para dar mais força à ordem, o «a» final do verbo - Kudia (acento no «u») - foi substituido pelo som longo iê)
   - Na segunda pessoa do plural, forma-se com o sufixo «enu»:
   Dienu! (comei!)
   Zekenu! (dormi!)
   Ivuenu! (ouvi!) - verbo Kuivua (acento no «i»)
   Este enu tem a ver com o significado «gentes», «pessoas» (enu akua zanzala — as pessoas da sanzala)
   I) Negativa
   - Uma das possibilidades de formação é com a partícula «ki»:
   eme ki ngala ni nzo (não tenho casa)
   eme ki (ngala) muhatu (não sou mulher)
   - Mas também se utiliza a partícula «ku»:
   Monami, kutundê! Monami zeka!
   (Meu filho, não saias! Meu filho, dorme! - Esta frase pertence a uma canção muito popular em Luanda em Fevereiro de 1961. É o lamento de uma mãe que aconselha o filho a não sair de casa por causa da Pide)
   - Outra forma de negativa verbal:
   Xitu, nga-i-diami (A carne, não a comi . Não se diz «Ngadiami o xitu»)
   Eme ngeniami (ji)ndandu (Já não tenho parentes há muito tempo; a forma verbal ngeniami significa «não tenho há muito tempo»)
   J) Forma reflexa
   Forma-se com a partícula di:
   Ku-di-sanga kua makamba
   (encontrar-se com os amigos, dar encontro com os amigos)
    (mona+ietu)
   (estou a encontrar-me com o nosso filho)
   L) Pronomes reflexos
   ngi, ku, mu, tu, nu, a
   Muene ua-ngi-zola (ele ama-me)
   (Ene) a-ku-vualela (nasceram-te)
   Em Kimbundu não há «o», «a» como reflexos, mas sim «lhe», «lhes».
   Por isso no Português de Luanda se diz «eu vi-lhe»: Nga-ku-mona (eu vi-te)
   M) Muitas vezes o verbo não aparece na frase:
   Eme, diala (eu sou homem)
   Kitadi, mona-a-ngene (o dinheiro é filho alheio). Nota: ngene usa-se muito em kimbundu para designar as coisas dos outros, alheias (inzo ia ngene - casa alheia; kitadi-kia-ngene - dinheiro alheio)
   5) Forma de cumprimento
   O cumprimento matinal é extremamente importante. Não tem nada a ver com o seco «bom dia» ou «olá». É um cumprimento em que se estabelece uma relação social.
   - Uazekele kiebi?, ou simplesmente, Uazekele? (dormiste bem?)
   - Ngazekele kiambote! (dormi bem!)
   Depois disto pergunta-se pelos filhos, pela mãe, pela avó, etc.:
   -O tata, kiebi? (O mama, kiambote?)
   (o teu pai, está bem? a tua mãe, está bem?)
   Quando as pessoas se encontram, perguntam-se:
   - Kebi? (ou uala kiebi?) (como estás?)
   - Kiambote! (ou ngala kiambote!) (estou bem!)
   E quando se despedem, podem dizer:
   -Mungu, ue! (até amanhã)
   -Mungu uenu! (até amanhã a vocês!)
   6) Sim, não
   Kiene (sim)
   Kana (não) - ler «kanáa»
   - Uandala kuia ni eme? (queres ir comigo?)
   - Kana! (não!)
   7) Expressões de reforço
   A expressão muene, além de significar «ele», «ela», significa também «mesmo».
   Eie muene! (tu mesmo!)
   Muene muene! (ele mesmo!)
   O tata muene! (o pai mesmo!)
   Kidi muene! (é mesmo verdade!)
   Nga-ku-zolo kiavulu muene! (Gosto mesmo muito de ti! - É a expressão mais poderosa usada em kimbundu para manifestar directamente um grande amor)
   Kiambotebote (muito bem), kiavuluvulu (muitíssimo), kionenenene (muito grande), kiofelefele (muito pequeno):
   -Eme, kiambotebote! (estou muito, muito bem!)
   - Uala ni kitadi? - Kiavuluvulu! (tens dinheiro? Muitíssimo)
   Repare-se também neste reforço:
   Tuoloietu! (estmos juntos! - Há aqui duas partículas repetitivas designando a primeira pessoa do plural: «tu». É um reforço muito comum no kimbundu)
   8) Diversos
   A) A-ngi-vualela mu Luanda (verbo Kuvuala - nascer) (Nasceram-me em Luanda)
   Em Kimbundu não se diz «nasci» mas «nasceram-me», «nasceram-te», etc.: a-mu-vualela (ele nasceu; literalmente: nasceram-lhe)
   B) Talvez devido à necessidade do ritmo, em kimbundu diz-se:
   - O kikalakalu, nga-ki-zuba kia (literalmente: o trabalho, acabei-o já. Em Português diz-se: Já acabei o trabalho).
   A expressão «kia» (já) vai sempre para o fim da frase:
   - Dikolombolo diakokolo kia! (o galo já cantou!)
   - (Eme) ngadi kia! (Já comi!)
   - (Ene) afu kia (Eles já morreram)
   - O jisoba jafu kia (Os sobas já morreram)
   C) Ki (quando)
   Ki ngibita bu tandu ia dikalu, akuetu a-ngi-xana monangambéee!
   («Quando passo em cima do carro (camioneta) as pessoas chamam-me filho de carregador». É a forma pejorativa como os colonos tratavam os negros quando estes iam na carroçaria das camionetas, muitas vezes para o «contrato» (trabalho nos cafezais), pois não tinham acesso à cabina). Note-se o aportuguesamenteo de dikalu (carro), tal como ngeleja (igreja).
   Ki uenda, uibula (quando viajares, informa-te)
   D) Kioso (todo)
   O izua ioso (todos os dias. Literalmente: os dias todos)
   E) Boba, bana, baba
   Boba (em algumas regiões baba) (aqui, cá)
   Bana (banáa) (lá, ali)
   Há regiões em que o «b» é duro e quase aspirado, como se tivesse um «v» à frente: «bvabva»
   Ngala boba (estou aqui)
   Mas note-se esta expressão característica:
   Za kuku! (Vem cá!)
   F) Género    Não há feminino como ele se entende em Português.
   Assim, usam-se as expressões auxiliares «muhatu (mulher)» e «diala» (homem) quando se quer especificar:
   Mona-ua-muhatu (criança do sexo feminino)
   Mona-a-diala (criança do sexo masculino)
   Nzamba-ia-diala (elefante macho)
   Hoji-ia-muhatu (leoa)
   Mas há outra forma:
   sanji — dikolombolo
   G) Conversar
   Em Kimbundu não se diz conversar, mas «pôr conversa»:
   Kuta maka (muene ua-mu-kuta maka - eçle está a pôr conversa)
   H) Artigo definido
   Em Kimbundu só se usa «o» correspondente aos portugueses «o, a, os as».
   O njila (o caminho - o jinjila - os caminhos)
   O nhoka ia-di-nhingi (a cobra enrolou-se)
   I) Tempo
   Mu ukulu (antigamente, há muito tempo)
   Lelu (hoje. Usa-se muito dizer Lelu, lelu! - hoje é hoje)
   Mungu (amanhã)
   Mungudina (á) (depois de amanhã)
   Maza (ontem)
   Mazadina (á) (anteontem)
   9) Alguns números
   1-moxi
   2-iadi
   3-tatu
   4-uana
   5-tanu
   6-samanu
   7-sambuadi
   10-kuinhi
   11 - kuinhi-ni-moxi (dez mais um)
   12 - kuinhi-ni-iadi (dez mais dois)
   Note-se a regra geral da língua, que atira os adjectivos para depois dos nomes e faz concordar todas as palavras pelo prefixo:
   Poko imoxi (uma faca. Literalmente: faca uma)
   Jipoko jiadi (duas facas)
   Muxi umoxi (uma árvore)
   Makamba (m)asamanu (seis amigos)
   Uma vez, duas vezes:
   Lumoxi, luiadi...
   Ngadi ngo lumoxi (só comi uma vez)
   10) Interjeições (algumas usam-se em Português de Luanda, que muitas vezes segue o Kimbundu e não o Português de Portugal)
   Aiué ou Aiuê! (dor ou embevecimento)
   Ala! (não me maces. Desprezo)
   Auá! (desdém, enfado)
   Exi! (que maçada!, é demais!)
   Haca! (Livra!)
   Hela! (Caramba!)
   Hum! (indecisão. Mas também «sim»)
   Hum-hum (lamentação)
   Também! (tens cada uma!)
   Tunda! (sai!)
   Xê! (Olá, tu, você!)
   11) Anga - ou
   Kufua anga kutolola (Morrer ou vencer - slogan do MPLA nos anos 60)
   12) Deus Nzambi (Deus todo-poderoso) - Ngana Nzambi (Senhor Deus)
   Kalunga (Deus do mar, associado a morte) - Kalunga nguma (Deus da morte)
   13) Neologismos
  A grande língua de referência do kimbundu é o português, a que ele recorre sempre que o seu vocabulário (mais incompleto) apresenta lacunas. O kimbundu da cidade, por ter necessidade de mais vocabulário, interpenetrou-se com o português local, importando variadíssimas expressões.
   a) Em kimbundu não existe «se», por isso se recorre ao português:
   Kalakala, se uandala kukala mutu! (Estuda, se queres ser pessoa!)
   b) Lumingu (domingo), Sapalo (sábado), Ngeleja (igreja), dikalu (carro, camião)
   c) Em geral termos políticos e económicos
   d) A expressão bessa, ngana (a sua bênção, senhor), por exemplo
   e) O português usa, por exemplo, a expressão minhoca (nkoka - cobra)
   f) Conceição - Sesa    
  g) Cadeia - caleia (por exemplo, a conhecida canção do movimento de libertação: Doutor Netoé mu caleia, ngongoé (O Doutor Neto está na cadeia, que sofrimento)
   h) Mesa - mesa. (Leia-se: messa)



* Rui Ramos, é Jornalista angolano especializado em línguas africanas.

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A Influência Bantu na Umbanda

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Por:Professor Maurício Santos
  Mutadiami

Introdução

 Origens Bantu.

Antes de abordarmos o tema referido sobre a influência Bantu nos cultos umbandistas, necessitamos informá-los quanto à origem e denominação do termo banto assim como a etimologia, praticas e condutas dos povos dessa denominação. Os Bantos são povos que podem ser classificados pela utilização do radical “ntu”, que significa “povo” ou que abrange o campo semântico retratando indivíduos. Porém, os Bantus representam uma unidade ou comunidade lingüística, e não geográfica ou política. A diversidade cultural aglutinada pela semelhança entre as línguas conserva-se separada quanto às diversas diferenças religiosas no seio de cada tribo ou clã familiar, pois semelhança não é igualdade. No entanto, o culto ancestral Bantu no Brasil é um prolongamento reapropriado das diversas culturas existentes na África Bantu ( candomblé brasileiro), incorpora hoje países como Angola, Congo, Moçambique, Zâmbia e até mesmo a África do Sul etc. Quanto à liturgia, ou seja, a prática religiosa, esta em solo brasileiro mesclou-se com outras “nações” como os nagôs e os gegês por exêmplo. Além disso, fundiu-se, também, com os cultos ameríndios “pajelância”, e cristãos como o catolicismo difundido pelos padres jesuítas portugueses. Porém, contudo essa espécie de sincretismo se efetua direta e intensamente na Umbanda.
A Influência Bantu na Cultura Brasileira. Esses negros Bantu atravessaram o oceano Atlântico dentro dos návios negreiros e participaram ativamente dos primeiros anos de escravidão no Brasil colonial, sofreram diversos e inoportunos abusos, mesmo assim contribuíram na construção da cultura nacional do povo brasileiro, quem não se lembra das lendas do saci-pererê, das festas folclóricas como o jongo, das congadas e dos moçambiques. Além do samba de terreiro ou agremiativo, da capoeira e dos hábitos culinários como o feijão cozido com quiabo ou abóbora entre outros pratos típicos da cozinha baiana ou mineira. As marcas destes africanos estão tão integradas a nossa cultura que hoje se torna difícil perceber, exemplo disto são as palavras de origem bantu como: moleque, bunda, cabaça, cachaça, ranzinza etc. É sabido que toda participação africana corresponde aproximadamente a setenta porcento da mão de obra trabalhadora em nosso país, acompanhando os vários ciclos de desenvolvimento: ciclo da cana-de-açúcar na Bahia em Pernambuco, ciclo do ouro em Minas Gerais e Mato Grosso, ciclo do algodão nos estados sulinos etc. Outro traço cultural peculiar do povo Banto em nosso país destaca-se pelos instrumentos musicais: tambó, candongueiro, quinjeque, engone, ingoma, zambê que são menbranofones de percussão. Cuía, puíta e cuíca que são menbranofones de friquição. Cordofones como o berimbau etc. Afinal, não podemos esquecer de lendas e mitos como o Quibungo, com sua boca enorme nas costas; o Chibamba, no seu traje de folha de bananeira; o Tutu Zambê; o Tutu Moringa entre outros. Num passado distante os Bantu se originaram dos grandes lagos africanos, e não se misturaram com povos mouros ou berberes islamizados, como alguns pesquisadores indicam. Nesta época, os Bantu eram regidos por “kakabas” soberanos que tinham a função de comandar e cuidar das tribos e de sua população. Naquela época os tambores eram fabricados de diversas formas, alguns gigantescos, outros menores que ficavam alojados em locais estratégicos e sagrados, além disso, faziam a comunicação entre as tribos. Os homens encarregados de guardar estes tambores eram iniciados para esta função e formavam uma casta privilegiada. As crianças passavam por ritos de iniciação como a circuncisão na infância, os ritos do final da adolescência para a fase adulta, e principalmente os ritos de ordenação que os transformavam em guerreiros, sacerdotes, monarcas etc.
A Influência Bantu na Humbanda. A influência dos hábitos culturais da Àfrica Meridional existente em nossa nação se efetua na Umbanda através dos pontos riscados “Zirimba” marcas de fixação imagética e energética, a formação linear de dividir as hierarquias entre médiuns de passe, cambonos e chefes de terreiros remontam os cultos no antigo reino do Congo. Assim a presença determinante da cultura conga e angolana na Umbanda se dá em aspectos importantes da vida étnica do brasileiro como a grande quantidades de descendentes de negros e posteriormente de ameríndios. Outra marca se efetiva na presença da performance ritual, na música, nas danças, no transe, na pictografia, no simbolismo das cores, e em alguns elementos ritualísticos como pedras, plantas, e pincipalmente nas pembas ( vide lenda da Pemba ). Além do culto à natureza o dogma de culto aos mortos como parte integrante da natureza e a naturalidade da morte concorre com a prática de manipulação das forças da natureza através dos encantamentos, futus, ntumbos, nkissis, bilongos e outros feitiços ancestrais. Pouco é falado sobre o enorme impacto da vertente congo-angolense na cultura popular do ocidente, sej no aspecto religioso (macumba, pallo, vodun), musical como o samba, rumba, mambo, tango, rock-n’roll, carnaval ou estético no ponto de vista do Cubismo cultural.

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