INZO TUMBANSI NGANA ZAMBE MUTAKALAMBO OBSERVAÇÕES DA TEOCRACIA
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Este texto foi postado na internet, contudo desconhecemos sua autoria,
mesmo assim seus ensinamentos são de muita valia. Nossa religião não possui um
“Livro Sagrado”, a exemplo de outras religiões e seitas. Tem por característica
a transmissão dos ensinamentos através da prática e oralidade. Esta
particularidade demonstra não haver um modelo de avaliação para aqueles que
receberam os ensinamentos. Dependerá única e exclusivamente de cada um de nós o
tempo para retermos as informações que nos forem dadas. Sem contar que somos
conhecedores que o fator dedicação, interesse e confiabilidade são extremamente
importantes para que possamos receber mais ou menos informações, haja vista que
nossos rituais e fundamentos são considerados iniciáticos e secretos Como
devemos nos comportar nas jinzo (casas de tradição) 1) GRUPO DOS NEÓFITOS
(NDUMBE) Aqui encontramos as pessoas que estão aguardando o momento de se
iniciarem e receberem os chamados “fundamentos” de nossa religião. 2) GRUPO DOS
INICIADOS (Muzenzas E Manganzas) Muzenza é o récem-iniciado, depois do terceiro
de feitura (pagos em dia), este é chamado de Manganza, ou seja já recebeu
alguns fundamentos. Este é o grupo das pessoas iniciadas e que estão
habilitadas a começar a percorrer a longa estrada de sua vida religiosa. É
neste grupo que é iniciado os primeiros passos atingindo as graduações através
do cumprimento das “Obrigações de Tempo de Iniciação”. 3) GRUPO DOS MAIS
GRADUADOS (KOTAS) Este é o grupo das pessoas que possuem 7 ou mais anos de
iniciados e que estão com suas “Obrigações” em dia. Nele podemos encontrar
pessoas que têm ou não cargos assumidos dentro da comunidade candomblecista, ou
seja, os Tatas Kimbanda, os Tatas Kambondo, as Nenguas, as Kotas e Makotas e
todas as suas derivações.
Lembrem-se que tomar a benção a um mais velho não é somente uma
obrigação, mas UM DIREITO ADQUIRIDO por todos que fazem parte de uma
Casa-de-Santo. O direito que temos de receber de uma pessoa mais velha de
iniciação, que nos abençoe naquele momento.ü Os cumprimentos deverão ser em conformidade com os nossos rituais, ou
seja, em posição de “kubatalala” ou “dobale”, batendo makó, beijando a mão e
solicitando que o mais velho nos abençoe na forma dialética da nossa Raiz.
Atenta-se para o detalhe que não se cumprimenta seus familiares religiosos ou
dignidades de outras Raízes de pé ou com a cabeça alta. Isto só é aceitável em
condições igualitárias da hierarquia sacerdotal, ou seja, ndumbe com ndumbe,
Munzenza com Munzenza com o mesmo tempo de iniciação e todos os tipos de Kota,
com ou sem cargo, com o mesmo tempo de iniciação. ü Banho tomado e roupa trocada, cumprimentar
ritualisticamente aos Minkisi da Casa e os locais de “Firmeza”. Feito isso,
iniciam-se os cumprimentos às dignidades presentes, começando pelas mais
antigas de iniciação até os de sua idade. Terminado, os mais novos do que
aquele que chegou, vão cumprimentá-lo. Cabe lembrar que os cumprimentos aos
mais velhos deve iniciar pelo Zelador/Zeladora da Casa. ü Parece-me de bom costume que o filho-de-santo,
independentemente do seu tempo de iniciado, entre na “Roça” e fique em local
reservado para “Esfriar o Corpo” (exemplo: uns 15 a 20 minutos antes dos
trabalhos) e bebendo um pouco de água fresca. Logo depois, tomar o seu banho de
asseio, seguido de banho litúrgico de folhas (variável de casa para casa) e,
depois, colocar a roupa litúrgica específica para ocasião e dentro dos costumes
pertinentes a sua idade de iniciado.
a) CHEGADA NA CASA-DE-SANTO
Não se senta em condição de igualdade e na mesma altura que pessoas mais
velhas de iniciação, a não ser em condições de excepcionalíssima necessidade e
com a devida permissão. Lembre-se que a CADEIRA é um mobiliário que faz parte
das tradições e hierarquia de nossas comunidades. Por mais presunção que seja
de minha parte, o contrário também vale, ou seja, um mais velho se juntar aos
mais novos de forma contumaz e corriqueira. Isso o estimulará a não compreender
o que é hierarquia e quando ele estiver comü Não se passa entre duas pessoas mais velhas, por exemplo, quando estão
conversando, sem que antes se peça licença de forma ritualística e de acordo
com os costume da Raiz a que pertença, sempre de cabeça inclinada, num gesto de
respeito (NÃO SUBMISSÃO) Dizendo – tunbandanjila. Responde-se – aueto. üb) PRESENÇA JUNTO AOS MAIS VELHOS Se não solicitado, um irmão mais novo não
tira e nem faz conclusões e nem dá opiniões em roda de irmãos mais velhos.
Quantos de nós já não presenciamos ou vivenciamos situações constrangedoras a
esse respeito e, em algumas ocasiões, com pessoas que não fazem parte de nossas
casas?ü O uso de bebidas alcoólicas dentro de uma
Casa-de-Santo, quer seja em dia de festividades ou não, se for utilizada,
deverá ser com o máximo de moderação. Lembrar que aqueles que estão de “obrigação”,
assim como os nossos Minkisi merecem o máximo de nosso respeito e, com toda
certeza, bebida alcoólica não faz um bom par com Nkisi. ü Em dia de festividades e no momento de
distribuição dos alimentos, é de bom tom que se dê preferência a que os visitantes
sejam primeiramente servidos, principalmente aqueles que se destacam como
dignidades comprovadas, em retribuição a honra que eles nos fizeram pelas suas
presenças. ü Fumar na presença de mais velhos e visitantes é
terminantemente proibido. Apor cinzeiros sobre as cadeiras dos mais velhos ou
dos Minkisi é ato de falta gravíssima. Dentro dos “quartos sacralizados”,
entendo que não merece nem comentários a respeito. ü É de boa prática que copos de bebidas (água,
refrigerantes, café, etc.) sejam servidos aos mais velhos ou visitantes
ilustres, com um prato ou bandeja sob a base do copo, caneca, xícara, etc. ü O gesto de servir alimentos e bebidas é
privilégio e obrigação das filhas-de-santo que são iniciadas para Minkisi
considerados como energias femininas. Munzenzas do sexo masculino, porém com
Nkisi “feminino” não serve nos almoços, jantares, cafés da manhã, somente
munzenzas do sexo feminino, iniciadas para Nkisi de “energia feminina”. Aos
iniciados do sexo masculino deverão estar destinados os trabalhos mais pesados,
com, por exemplo, as faxinas do caramanchão e terreno da Roça, a limpeza dos
quartos-de-santo e todas as tarefas que necessitem de força mais bruta. üo mesmo tempo de iniciação que o seu, não se
sentirá prestigiado quando o mesmo acontecer com ele. Isso não é ser pedante
nem ter humildade, mas saber mostrar ao mais novos, ESPONTANEAMENTE, COM
EDUCAÇÃO e SIMPLICIDADE a importância de ser mais velho e que hierarquia é para
ser praticada. Sentar-se à mesa com o Zelador/Zeladora, desnecessário detalhar
que somente aqueles que possuem “Cargo” (e confirmados) e as dignidades que o
Zelador/Zeladora convidar.
Todos os filhos da Casa, independentemente do
tempo de iniciado, ao passaremü Às filhas-de-santo é
proibido utilizarem os atabaques para tocarem ou mesmo removê-los de seus
locais. Da mesma forma a regra serve para outros instrumentos do tipo gã
(ganzá), berimbau, reco-reco, xequerê, maracá e outros. Esta atividade é
destinada aos Kambondos, confirmados para este fim. ü A dixisa – esteira -, tanto
utilizada em nossas casas jamais devem ser arrastadas pelo chão. Sobre ela não
se fuma e nem se bebe bebida alcoólica. Elas fazem parte do conjunto de objetos
sagrados de nosso culto. Os membros da casa do sexo feminino devem carregar as
esteiras debaixo do braço e os de sexo masculino devem carregá-las sobre o
ombro. As mulheres iniciadas para Minkisi de “energia feminina” é que devem
esticar as esteiras para o dobale de seus irmãos do sexo masculino. Somente em
último caso que as mulheres de “santo masculino” estendem as esteiras para os
seus irmãos realizarem o dobale. ü As filhas-de-santo
que têm permissão para usarem a Bata, deverão estar com seus panos-da-costa
colocados na altura do peito ou arrumados na altura da cintura, porém, nunca em
forma de faixa enrolada na cintura, pois não é o costume certo e nem elegante
para a vestimenta. A quem defenda, em casas mais antigas e tradicionais que o
pano-da-costa deverá estar sobre o peito ou na cintura, quando da participação
da filha-de-santo em trabalhos ritualísticos. Caso contrário, em dias de
festividades, o pano-da-costa deverá estar sobre o ombro direito, caindo para
frente e para trás. O pano-da-costa é uma peça do vestuário feminino indispensável
para qualquer ocasião que se esteja na Roça-de-Santo ou em visita a uma outra
Casa. Talvez seja ele e o pano-de-cabeça sejam as peças mais tradicionais da
indumentária feminina em nossos candomblés, oriundo de terras africanas,
enquanto o camisu e as anáguas fazem parte do legado dos costumes europeus. ü Aos iniciados com mais de 7 anos
e com “Obrigação” paga, será permitido o uso de brincos (do tipo: argolas,
búzios, corais, monjolos, dependendo do Nkisi para que foi iniciada), da mesma
forma a permissão para o uso de pulseiras e braceletes somente depois de 7
anos. ü O pano-de-cabeça é obrigatório
para os filhos-de-santo do sexo feminino, independentemente se for de Santo
Masculino ou Santo Feminino. Em conjunto com o pano-de-cabeça, indispensável o
uso do pano-da-costa, que deverá estar com um laço em forma de borboleta para
as iniciadas de Santo Feminino e em forma de gravata para as iniciadas de Santo
Masculino. ü O uso de chinelos deverá ser
após ter completado e pago a “Obrigação de Três Anos”.é importante frisar quem
não tem santo feito fica descalço, Ressalva em tempo frio e úmido. As Kotas
poderão usar sapatos com saltos e maquiagem, porém a discrição, o bom senso e o
bom gosto, combinados, não fazem mal algum para escolha destes complementos,
pelo contrário, tornam harmoniosa a imagem da pessoa. ü Uma Ndumbe deve usar poucas
anáguas. À medida que é iniciada e vai ganhando tempo de iniciada, o número de
anáguas vai aumentando. ü Quanto às mulheres, JAMAIS DEVEM
USAR CALÇAS COMPRIDAS dentro da Casa-de-Santo. Os cauçolões devem estar sob as
saias. ü O uso de roupas coloridas não é
proibitivo aos iniciados com menos de 7 anos, porém deve obedecer aos critérios
da Casa que, normalmente liberam este tipo de estamparia em dias de
festividades, dependendo de que tipo é este comemoração. A cor branca sempre é
bem aceita em qualquer tipo de ocasião e ritual. ü Roupas limpas e bem passadas, são condições indiscutíveis em
qualquer condição da hierarquia sacerdotal. Os homens devem estar trajados de
“Roupa de Ração”, ou seja, calças amarradas com cadarço e camisas com mangas
(podendo ser camiseta). Algumas casas dão preferência ao tecido do tipo morim,
fustão e cretone, variando de casa para casa. O uso deste tipo de vestimenta
deverá ser destinado para os rituais internos. O uso de bermudas e “shorts” não
fazem parte de nossos rituais. O uso de batas deve ser destinado aos que
possuem 7 ou mais anos de iniciação e com suas “Obrigações” em dia e
correspondente a esta idade. ü A indumentária religiosa é um
dos fatores que fazem a distinção e mostram a posição hierárquica assumida por
uma pessoa dentro da Casa-de-Santo, de acordo com as tradições. Essa distinção
é feita tanto em nosso país como em terras africanas. No Brasil, por questões
culturais e que também foram absorvidas pelos costumes europeus, tomaram
características diferentes daquelas do continente africano, mas, mesmo assim,
formaram um modelo que diferenciam desde o Ndumbe até a mais alta dignidade de
sua Casa. üc) IDUMENTÁRIA, ROUPAS, ADEREÇOS,
SÍMBOLOS E OBJETOS SAGRADOS.
Finalmente, há que se chamar à atenção para que os mais velhos sempre
tenham em mente que a hierarquia sacerdotal serve para diferenciar os tempos de
iniciação, mas que jamais deverão servir aos propósitos da humilhação de seus
irmãos mais novos. Que a hierarquia, posturas e costumes servem para ser
utilizados entre os componentes de uma comunidade e nunca de nós para com os
nossos Minkisi. Para estes, seremos sempre munzenzas, e que bom que seja assim,
pois desta forma seremos sempre agraciados por suas dádivas, orientações e
ensinamentos.ü Bem meus irmãos, acho que me
empolguei demasiadamente a respeito deste assunto e me tornei prolixo, para o
que peço desculpas pela extensão do texto aqui apresentado. Sei também que
poderia continuar apontando outros pontos mais que por si só justificariam a
necessidade de continuarmos mantendo e sustentando a defesa de que a postura e
os costumes ensinados pelos nossos mais velhos e que hoje estamos abandonando
em nome de uma igualdade inexistente, fazem parte das tradições
afro-brasileiras e só enriquecem os nossos cultos, ao contrário de muitos de
irmãos nossos que pelo Brasil afora estão confundindo educação e tradição com
anarquia. ü A formação da roda de
filhos-de-santo que estarão dançando para os Minkisi deve seguir a hierarquia
dos anos de iniciação e postos ocupados na Roça. Não devemos esquecer que a
dança também faz parte dos nossos rituais e louvação aos nossos ancestrais,
numa forma de reverenciá-los e reviver suas passagens por nossas terras. Sair
da roda sem um motivo justificado denota uma falta de respeito e pouco caso com
os nossos deuses. üna frente das cadeiras dedicadas
aos Minkisi, atabaques ou pessoas mais velhas, devem fazê-lo abaixando o corpo.